sexta-feira, 18 de março de 2011

Reportagem italiana sobre o Brasil


Hoje saiu no jornal La repubblica uma materia sobre o Brasil. Gosto de ver como nosso pais é visto por aqui. Fiz uma tradução rápida com a ajudinha do google, lembrando que sou iniciante na língua, se tiver algum erro sorry...a intenção foi a melhor possível, rs.



O Brasil do milagre agora é a locomotiva do mundo 






RIO DE JANEIRO - O que é os Estados Unidos? "Esse é o único lugar onde só tem inverno?” se atreve João Paulo, 6 anos. Quem é Obama? "Obama é um Lula", respondeu Agatha Vitória, 5 anos. Aqui todos os garotos, quando adultos , querem se tornar Ronaldinho e Kaká, a surpresa são as meninas: muitas se imaginam no futuro como empresárias. Não é uma idéia previsível no lugar onde estão. Eles estão em uma classe de primeira série do "Solar Meninos de Luz", a Casa dos Filhos da Luz. Uma instituição localizada entre as duas favelas mais notadas do Rio, ninhos de pequenas casas em de um morro, as favelas que têm devorado a vegetação tropical para amontoar 15.000 pessoas em condições abusivas, por décadas sem água corrente e sem luz, coladas como crustáceos em uma parede íngreme que pode entrar em colapso com uma tempestade tropical. Só no Brasil é possível que um lugar tão desolado seja a fronteira entre as duas das praias mais chiques e famosas de todo o Hemisfério Sul: Copacabana e Ipanema. E em homenagem a fantasia carioca que desafia a desgraça, estas duas favelas históricas no coração do Rio têm nomes de pássaros: Pavãozinho (pavão pequeno) e Cantagalo. 
 
É o antigo símbolo de uma nação cruel, que durante séculos convivem a poucos metros de distancia: o luxo descarado dos ricaços e a miséria sem vergonha do subdesenvolvimento. Mas hoje se tornou um símbolo de algo novo: um desenvolvimento que pela primeira vez ataca realmente a pobreza, reduz a desigualdade. Esta é a razão pela qual Barack Obama, que amanha inaugura em Brasília a sua primeira visita como presidente na América do Sul, no domingo ira ao Rio e pediu para visitar uma favela. Sem controvérsias, sem ideologimo cubano ou venezuelano, o Brasil, nos últimos anos tornou-se um modelo socialdemocratico que pode ensinar algo para os Estados Unidos. 
  "Solar Meninos de Luz" não nasceu da idéia de um presidente, é um pequeno milagre da sociedade civil. Por traz disso, existe um benfeitor famoso, o escritor Paulo Coelho, que nasceu no Rio, mas também há milhares de cidadãos anônimos que contribuem regularmente com pequenas doações. O centro tem um cunho religioso que pode fazer torcer o nariz dos leigos (é inspirado na doutrina do francês espírita Allan Kardec, pedagogo que acreditava na reencarnação), mas não surpreendeu ninguém no Brasil, onde a Igreja Católica convive Candomblé Africano, e ambos sofrem a penetração maciça dos evangélicos. "O que importa aqui é o resultado - disse minha guia, a voluntária Alessandra Maltarollo - e isso é: que essas crianças não vêem mais nem drogas nem armas. Nós os acompanhamos do jardim de infância à universidade.”

O milagre da "Casa dos Filhos da Luz" é o espetáculos que vi no percorrer do dia nas filas de gente que sobem o morro íngreme: ao lado dos becos ainda há um grupo de jovens ociosos, sentados dentro das barracas, mas em meio a isto desfila um cortejo alegre com uniforme escolar branco e verde, limpissimos, ordenados, direcionados para as salas de aula. Eles têm uma biblioteca com 20 mil textos, um teatro com 400 lugares, ginásio onde treinam capoeira (arte marcial brasileira), ambulatório e refeitórios, até mesmo professores especializados na assistência a crianças com deficiências graves. Os cursos de Inglês e informática começam no primário, onde eu perguntei sobre a chegada de Obama. Mas a transformação da favela é o resultado da ação combinada: além dos voluntários que trabalham em baixo, existe uma intervenção de cima. No sentido literal: é do alto que se chega rapidamente a esta e outras favelas do Rio os helicópteros, os esquadrões paramilitares, forças especiais de combatimento. Uma verdadeira operação de guerra, pré-planejada como um dos últimos atos do presidente Lula da Silva, de acordo com o governador e o prefeito. "95% da população aqui não sofreu como uma invasão, mas como uma libertação", diz Lerner Sallyr, que por toda a vida foi "o dentista nas favelas". 
 
O Estado tomou pela primeira vez na história, o controle deste território, mafiosos e traficantes de droga fugiram. E esta invasão espetacular não permaneceu somente como uma façanha extraordinária. Os varredores de rua são um sinal de que o Estado ainda está aqui. Como o carro de Policia que permanece na entrada da favela: uma presença impensável até um ano atrás, quando a polícia não ousava aproximar. "Uma das favelas - disse-me a fotógrafa Ana Rodrigues –se chamava Faixa de Gaza. Nela os traficantes vendiam drogas sobre bancadas a céu aberto, com armas nos ombros. As crianças me pegavam pelas mãos e me guiavam para fotografar as piscinas de sangue quente das últimas vítimas de acerto de contas”.

As favelas continuam a crescer em altura, por força de "puxadinhos”, casas que se sobrepõem umas sobre as outras. Mas a colméia caótica de Cantagalo é constituída de tijolos em vez de madeira: um modesto sinal bem-estar primordial que avança. Atrás da metamorfose das favelas, existe um fenômeno muito mais amplo. A taxa de desemprego no Brasil caiu para 6,1%: o menor de todos os tempos, mais baixo que dos Estados Unidos e da União Européia. Parte deste progresso é simplesmente o efeito do crescimento em todos os países emergentes. Nas palavras de José Carlos Martins, diretor-executivo da Vale que é o segundo gigante da mineração mundial : “Nós acordamos todas as manhãs e rezamos para que a China esteja bem”.

Soja, açúcar, café, madeira, cobre, ferro, tudo do qual a natureza generosamente forneceu ao Brasil, está vendendo como pão quente nas nações asiáticas, que são as locomotivas do crescimento. Este país que era famoso por sua falência, que entre 1940 e 1995, oito vezes teve que mudar o nome da sua moeda, como resultado da hiperinflação, agora se tornou o quarto maior credor dos Estados Unidos. O investimento estrangeiro flui ao ritmo de US $ 45 bilhões por ano, apenas a China a supera. O Brasil deu a primeira letra ao novo acrônimo BRIC, com Rússia, Índia e China fazendo parte do clube das "outras" potencias, aquelas que aceleram enquanto o Ocidente declina. No Rio e em São Paulo se respira a mesma confiança no futuro que me recordo em Mumbai e Xangai. Mas entre os BRIC, é o Brasil que pode se gabar da estrutura mais equilibrada das exportações. Ao contrário da China e da Índia, o Brasil é um "celeiro" do mundo, tem uma  agricultura moderna capaz de competir com a dos Estados Unidos, e produz muito mais do que consome. Ao contrário da Rússia e de outros países emergentes, não vive só de matérias-primas. Exportar carros, telefones, eletrodomésticos, barcos e locomotivas. A sua jóia industrial é a Embraer, o terceiro grupo aeronáutico mundial depois da Boeing e da Airbus.

Além disso, possui a característica mais importante que torna o Brasil único entre os Bric: a quarta democracia mundial foi capaz de usar o "boom" de reduzir as desigualdades, ao invés de aumentá-la como aconteceu na China. "Nós somos uma exceção - acrescenta o economista Ernani Teixeira do Banco Nacional de Desenvolvimento – também em relação à tendência das democracias liberais mais maduras" Nos Estados Unidos e em grande parte da Europa, as disparidades de renda e patrimônios são acentuadas. "A nossa sorte - ironiza o economista Fabio Gambegia do BNDES - talvez seja ligado a uma ironia da história. A nova Constituição do Brasil democrático foi aprovada um ano e meio antes da queda do Muro de Berlim, numa época em que ainda existia confiança no papel do Estado”. 
 
O primeiro a aplicá-la realmente foi Lula. Sua política social, que hoje prossegue com a presidente, Dilma Roussef (ex-chefe de gabinete de Lula, um passado na luta armada, prisão e tortura durante a ditadura militar), tem "incorporado" pela primeira vez na economia do pais, as massas de pobres. O salário mínimo, que se aplica aos 25 milhões de trabalhadores, tem uma dupla indexação: da taxa de inflação e aumento do PIB anual. Uma dádiva do céu em um período de forte crescimento como nos últimos oito anos. Hoje, o salário mínimo vale mais de US $ 300, um nível muito mais elevado do que em outros países sul-americanos. "Esta é a melhor maneira de reduzir as desigualdades: para enriquecer os pobres, em vez de empobrecer os ricos", diz Gambegia. Você não pode dizer o mesmo de Hugo Chávez nem do socialismo cubano. O Brasil ganhou admiração em todo o mundo com a invenção da Bolsa Família, um subsídio direto às mães que são pagos somente se os filhos vão à escola regularmente. Ele funciona, é o melhor antídoto contra o trabalho infantil já inventado.

É claro que esta não é a Escandinávia, é uma terra com muitos pobres, corrupção, injustiças: mas é um dos poucos países no mundo onde o índice da distancia entre os ricos e o pobre diminuiu regularmente em oito anos. Agora o milagre "de esquerda" brasileiro deve enfrentar grandes desafios, frutos de seu sucesso. Tem uma moeda muito forte, que transforma o São Paulo nas cidades mais caras do mundo, e não ajuda a indústria de exportação. A supervalorização tende a aumentar nos próximos anos pela descoberta de enormes campos de petróleo offshore, a 200 km da baía do Rio, que fazem do Brasil a quarta ou quinta potencia mundial de energia. Compreende-se o interesse de Obama por este parceiro-rival, cujo poder começou a eclipsar o grande vizinho do norte. E Obama que pediu especificamente para incluir em sua visita a uma favela do Rio, Cidade de Deus. "Hoje pode
​​explorá-la traquilamente - disse Ana Rodrigues.”

E ai, o que acharam? Estamos com a bola toda? Será que a policia conseguiu,com aquela “histórica” invasão, expulsar os traficantes das favelas? O bolsa família funciona efetivamente? O pais está realmente atacando a pobreza e diminuindo a desigualdade? 

Isso da uma longaaaaaa discussão? Não? 

Pelo menos fica ai a dica de uma boa reflexão!

Um baccione 


Valeria M.

4 comentários:

  1. é, economicamente estão mostrando uma boa e positiva imagem do nosso Brasil... mas fora isso, temos muitos outros estereótipos ruins! baci

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  2. Gostei da reportagem. Posso publicá-la no meu blog com os devidos créditos?
    Como disse a Carla, ainda temos muitos estereótipos ruins. E acredito que será muito difícil desmistificá-los.
    Bjs

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  3. Infelismente os esteriotipos ruins ainda existem e isso pesa mt sobre a imagem do nosso pais..mas as coisas estao mudando...tomara q nao demore mt, no decorrer da historia, para q isso aconteça.
    Juliana, fique a vontade para publica-la no seu blog! Bjs

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  4. Oi Valeria,
    Logo depois de ter comentado este post, vi outro texto de um ex professor de Milão sobre o "milagre econômico" brasileiro. E ele até vai lançar um livro emm breve sobre este tema.
    Obrigada pela concessão do texto!
    Beijos

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